quarta-feira, 16 de abril de 2008

TESTEMUNHA OCULAR

Por Cesar Bolonha

Segue uma entrevista feita pelo jornalista Fábio Leme com seu avô, Fernando Botelho. Fernando assistiu todos os GPs Brasil no Hipódromo da Gávea. Uma vez, em 1932, quando era goleiro do Flamengo, foi jogar um torneio na Bahia. A final foi Flamengo e Bahia e, de repente, pênalti para o Bahia. O juiz apita, o batedor chuta e Fernando defende. Mas o juiz manda voltar o lance, alegando que ele se mexeu antes do chute. Tudo pronto para a nova cobrança, o juiz apita, o batedor chuta e Fernando defende mais uma vez. E novamente o juiz manda voltar o lance, dizendo que Fernando se antecipara da mesma forma. O Bahia decide então trocar o cobrador por um zagueiro daqueles que fecha os olhos e solta a bomba nessas horas. Soa o apito, Fernando fica estático, o zagueirão corre e chuta mais grama do que qualquer outra coisa. A bola rola vagarosamente em direção ao gol, quando Fernando, ainda sem mover um músculo, ameaça: “Seu juiz, eu vou pegar, hem”. O Flamengo acabou campeão.


Por Fábio Leme

Fernando Ferreira Botelho nasceu no dia 02 de março de 1913, no bairro do Catete. Filho de Antonio Ferreira Botelho e Consuelo Ferreira Botelho, Fernandinho, ou para alguns “Dodô”, estudou no Colégio Santo Inácio e também no Pedro II. Foi o primeiro goleiro da era de profissionais do Flamengo, em 1933, e trabalhou no Instituto Brasileiro de Café após a carreira de jogador. Hoje em dia, aos 95 anos (e ainda dirigindo), faz das suas idas ao Clube de Regatas do Flamengo e ao Jockey Club Brasileiro seus principais entretenimentos.

Como foi sua estréia no turfe?
Em 1929 comecei a freqüentar o Jockey porque meu pai era sócio e eu dependente dele. O Jockey ficou em evidencia após a inauguração em 1926, na Gávea. De 1929 a 1935 não freqüentei o Jockey porque era goleiro de futebol no Clube de Regatas do Flamengo. Fui o primeiro arqueiro na era profissional do rubro-negro. Em 1935 tive séria lesão no joelho e precisei parar de jogar, retornado a freqüentar assiduamente o Jockey Club Brasileiro, a partir de então, e de lá para cá jamais deixei de freqüentar.

Quem fez você conhecer o Jockey?
Eu era amigo do Francisco Eduardo de Paula Machado (proprietário), pois estudamos juntos no Santo Inácio e daí eu conheci Ernani de Freitas (treinador do Paula Machado) de quem fui grande amigo. Comecei a ir regularmente e nunca mais parei. O Jockey era um ambiente que eu gostava de freqüentar.

Como era o Jockey antigamente?
O Jockey, principalmente, a parte social era o centro da elegância do Rio de Janeiro, freqüentado pela alta cúpula da sociedade, por ex-presidentes inclusive. Até o ex-presidente Médici eu conheci e conversei em um Grande Prêmio Brasil, pois ele era primo-irmão do Candiota, ex- meia-direita do Flamengo, a quem conhecia.

Com foi a sua relação com os cavalos?
Em 1948 eu tive meu primeiro cavalo, cujo nome era Gigo, junto com meu amigo e compadre Doca (Alfredo de Almeida Rego, jogador de futebol campeão em 1926 pelo São Cristóvão). A primeira experiência foi muito boa. Foram oito vitórias. Daí em diante eu sempre tive cavalos. Alguns me despertaram mais entusiasmo, como na década de 1980 uma égua chamada La Troika, que foi recordista, na areia, nos 1400 metros, durante 12 anos. Já na de 1990, um potro, Racan, que em seis corridas venceu por quatro vezes, morrendo aos 3 anos de cólica. Racan era um bom cavalo. Correu uma prova clássica e ganhou. Tinha muitas esperanças. Foi uma grande decepção.

Qual foi o seu Grande Prêmio Brasil inesquecível?
O que mais me empolgou foi o Orpheus, um cavalo que correu o Grande Prêmio Brasil na década de 1970. Eu e o Doca ficamos três dias tratando deste cavalo dia e noite, noite e dia. Ele era dúvida para o Grande Prêmio devido a um problema no boleto, sendo que no ano anterior este cavalo tinha tirado segundo lugar. Foi curado, entrou na raia e ganhou.

O que é o Jockey para você?
O Jockey é minha segunda casa, só ficando atrás do Flamengo, a casa master. São as minhas paixões, os meus prazeres. Hoje em dia eu freqüento o Jockey sempre. Tem corrida, tem Fernandinho. Na minha opinião, devo ser o mais velho freqüentador do JCB. Tenho meu grupo de amigos e torcedores do arco-íris futebol clube ou anti-flamenguistas, que sofrem na minha mão. Resumindo a história, o JCB é lugar aconchegante, seguro e que propicia a todos um bem estar. É gostoso estar lá. Nós nem vemos a hora passar.

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