sábado, 28 de junho de 2008

PROFESSOR DE VERDADE

Duas aulas de direção do saudoso “Pancho” Irigoyen

por Hugo Paim

Sem dúvida alguma o chileno Francisco Irigoyen foi um dos maiores fileteros (jóquei que atua no regime de bridão) que o público brasileiro viu atuar. Dono de uma técnica invejável, brindava sistematicamente aos turfistas com magníficas direções a seus pupilos.

Uma vez, montava o cavalo Coaralde em uma prova de 2.400 metros, enfrentando o valoroso Bar (Vagabond II e Palina), montado por Luis Rigoni. Coaralde corria sempre atrás, desenvolvendo na reta de chegada o seu potencial máximo. Bar, por sua vez, era um cavalo que não tinha preferência de ritmo de corrida. Dada a partida, Rigoni lançou seu pupilo para correr na frente e assim o fez até o contorno da curva do Hospital, quando surpreendentemente Irigoyen fez correr sua montada e já virou na primeira posição, após entrarem na reta oposta, vindo assim até o disco de chegada. Ao ser perguntado por que havia tomado essa atitude ele simplesmente respondeu:

“O que o Rigoni queria fazer, eu fiz. Fazer um ritmo lento para que o páreo fosse decidido na reta final. Ora, a reta tem 600 metros, ele muito inteligente queria transformar uma prova de 2.400 metros em apenas 600 metros, e assim ele com um cavalo mais ligeiro levaria vantagem e fatalmente venceria, pois minha montada não o alcançaria, por mais que corresse. Eu somente fiz valer a maior categoria do meu pilotado.”

Mas a segunda aula, talvez a mais bela e surpreendente, foi aquela em que ele pilota o cavalo Caju, da nobre criadora e proprietária Zélia Gonzaga Peixoto de Castro, no Grande Prêmio Conde de Herzberg. A força inconteste era o cavalo Overlord (Ferino-Hirarana), com uma performance invejável no Hipódromo de São Paulo. Era um animal ligeiro e extremamente resistente. Como se diz no linguajar do turfe, largava e acabava com a prova.

Pancho sabia disso perfeitamente, e não havia como vencer o grande cavalo paulista se não fosse montado um plano estratégico para alcançar êxito no intento desejado. E assim foi o desenrolar da prova: dada a partida, como era óbvio, Gastão Massoli lançou Overlord para frente e foi assim até a virada da última curva, entrando na reta final. Na Geral, Overlord tinha quatro corpos de vantagem, e Massoli olhava seguidamente para trás, e nada via, pois em realidade era muito superior aos demais. Faltando 200 metros, Massoli se convenceu da vitória e se acomodou em sua montada. Foi aí que “Panchito” fez correr com todo vigor o seu pilotado, e sua aceleração era sempre pela cerca interna, a mesma faixa de Overlord, cujo piloto não podia vê-lo. Quando Caju estava a meio corpo atrás de Overlord, Irigoyen faz rapidamente sua montada trocar de mão, e quando o “Grito” ensurdecedor do público presente despertou a Gastão Massoli, faltavam menos de 50 metros, e Caju estava menos de meio corpo. Nada mais a fazer: menos de meia cabeça a favor de Caju (Sayani-La Tana)!

Eram outros tempos! Eram outros Frenos Y Filetes (Freios e Bridões).

Como registro final: Caju era treinado pelo ótimo treinador Maurício de Almeida e foi considerado o melhor potro nascido em 1959.

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