sábado, 14 de junho de 2008

Carta ao Bebeto Morgado

por Cesar Bolonha

De uma família tradicional do turfe, Roberto Morgado Junior, o Bebeto, é desde muito pequeno ligado aos cavalos. Jogava bola e andava de bicicleta na Vila Hípica, entre outras brincadeiras, mas quando chegava a hora, de tarde, do passeio dos animais, ficava a observar com seus parentes o desfile dos astros dos espetáculos da Gávea.

Com o passar dos anos, de tanto observar aquela atividade, passou a conhecer quase todos os cavalos. Logo começou a encontrá-los também nos trabalhos matinais do hipódromo, que passou a freqüentar. Por fim, tornou-se treinador, muito assediado por ótimos e péssimos amigos. Cometeu alguns erros, mas, enfim, quem não os comete.

Virou um excelente treinador, muito procurado por grandes proprietários. O avanço da diabetes, porém, acabou lhe causando sérios danos à visão. Nesse meio tempo, contudo, conseguiu preparar e ensinar tudo o que sabia ao seu filho, Bebetinho, que quando o pai perdeu totalmente a visão, tornou-se seus olhos. Enquanto isso, Bebeto apurava seus outros sentidos.

Estive no CT algum tempo atrás e o vi perguntando ao filho quem seria o próximo cavalo a ser trabalhado. Bebetinho dizia o nome e era o pai quem dava as instruções ao piloto. “Larga devagar e aperta mais um pouco nos 400m finais”, dizia, entre outras instruções. Os tempos eram marcados pelo filho, mas, quando os cavalos retornavam aonde estávamos, Bebeto em silêncio se aproximava e encostava a mão no pescoço do animal, procurado sentir sua respiração. Essa cena muito me emocionou. Estava diante provavelmente do único treinador cego do mundo inteiro.

Bebeto, rendo minhas homenagens a você e a todos aqueles que o cercam, sua família e seus amigos – hoje em dia, só os bons. Parabéns pelos seus filhos e netos, pela maneira como você os criou.

Do seu amigo,

Bolonha

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