sábado, 10 de maio de 2008

COCHEIRA DE VIDRO - Delicatesse

por Cesar Bolonha

Delicatesse foi uma égua que o velho Bolonha teve e sobre a qual costumava contar para todos o seguinte episódio:

Seis turfistas relembravam histórias acontecidas em vários hipódromos pelo Brasil. Havia um deles, o mais velhinho, que ao término de cada história sempre balbuciava: “Egüinha boa era a Delicatesse”. Horas depois, passadas várias histórias, os outros, intrigados, resolveram finalmente perguntar quem era essa tal de Delicatesse. O velhinho começou então a contar.

“Anos atrás existia na Gávea uma egüinha linda, harmoniosa e muito corredora. Toda dourada, cara branca, calçada das quatro e que corria de verdade. Obteve 16 vitórias no Hipódromo da Gávea, quase sempre com o jóquei Jefferson Baffica.

Quando ela completou 6 anos, seu proprietário pediu a um amigo criador que levasse a sua craque para ser coberta. Ele ficaria com o primeiro produto, e o criador com Delicatesse.

Trato feito, a craque embarcou para o haras. Alguns meses depois, o proprietário recebeu um telefonema do amigo comunicando-lhe que o teste de prenhez dera negativo.

O proprietário então trouxe Delicatesse de volta e a deixou no Hipódromo de Corrêas. Ela chegou com mais uns 70 kg, mas estava linda como nunca, muito bem disposta e cheia de energia.

Após alguns galopes, apareceu um páreo em que ela poderia competir, e seu treinador fez sua inscrição.

Corrêas, para quem não conheceu era um Hipódromo pequeno, e precisava duas voltas para completar a distância em que Delicatesse iria reaparecer. Os adversários eram de pouca categoria, mas, para as condições da égua, excelentes.

J.Baffica fez questão de pilotá-la e viajou para Corrêas no dia do páreo.

Foi dada a partida, Delicatesse saiu folgada na frente e, ao entrar na reta, pela primeira passagem, já vinha com vários corpos na frente. Foi então que se deu o inusitado, em frente às sociais, a égua parou, o jóquei, sem entender o que estava acontecendo, desceu, e ela, ali mesmo em frente ao público, pariu um belo potrinho.”

Nesse momento, os outros cinco turfistas começaram a desconfiar da história. Mas o velhinho, sério, continuou.

“Baffica, que era o único perto dela, havia afrouxado todo o encilhamento para que não atrapalhasse o parto. Mas, depois que o potrinho saiu, o jóquei acertou todo o encilhamento e voltou a montar, saindo atrás do grupo que já estava uns 400 metros à sua frente. Pouco antes de entrar na reta pela segunda vez, Delicatesse encostou no grupo. Ao virar a curva da reta final, ela foi passando um a um seus adversários e, no disco, o jóquei ainda fez posição.”

“Ah, lógico”, zombaram os amigos, rindo do velhinho.

“Mas esperem, que a história não acabou! Quem formou a dupla foi o potrinho da Delicatesse.”

Diante de uma história tão fantástica, os amigos então ficaram sérios, pensativos, até o que o velhinho quebrou o gelo, convidando-os para um café, sem antes deixar de repetir: “Egüinha boa era Delicatesse”.

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