terça-feira, 20 de maio de 2008

Baú de memórias

por Cesar de Lima e Silva

Ontem completaram 18 anos de morte do meu avô, o Bolonha. Acho que a ocasião é oportuna para publicar o seguinte texto, publicado originalmente pelo José Carlos Moraes, em sua coluna no Jornal dos Sports de 16 de abril de 1997.


Abrimos espaço para publicar uma matéria de Loisy Vareda, mulher do locutor Oscar Vareda, membro a ADABL, Associação dos Diplomados da Associação Brasileira de Letras, que escreve sobre Heitor de Lima e Silva, o Bolonha, uma espécie de João Saldanha do turfe, obviamente sem a agressividade de Saldanha, mas com o mesmo carisma:

VIVER É RECORDAR

Da época de 50, guardamos na memória a lembrança de grandes festas na casa de “Bolonha”. Lá, a figura inesquecível de sua mãe D. Noêmia de Lima e Silva, que foi casada com um descendente do Duque de Caxias, guardava com orgulho e ostentava uma de suas espadas. D. Noêmia era também escritora, deixando entre seus escritos uma peça teatral. Amante da literatura quis em vida doar sua biblioteca e coube a mim receber, de suas mãos, a “Obra Completa de Machado de Assis”, abrindo as portas para uma série de episódios ligados ao grande escrito, que terei oportunidade futura de relatar.

Bolonha, Heitor de Lima e Silva, era comentarista de turfe no Rio de Janeiro, operando nas mais conceituadas emissoras da época. Torcedor do Botafogo, era uma “criança grande”, sempre alegre, risonho, gostava de cantar “Tea For Two”, “Será Que é Boneca ou Menina?”, mas gostava também de reunir em sua casa, artistas e radialistas. Em suas famosas festas no Posto 6, conhecemos Luiz Reis, o “Cabeleira” do turfe e da música, pianista e compositor. Quem não se lembra de Miltinho cantando “Quem sou eu, Quem é você? Meu nome é ninguém” e “Palhaçada”, “Cara de palhaço, pinta de palhaço, roupa de palhaço”? E Elizeth Cardoso cantando: “Eu escrevi na fria areia um nome para amar...? “Bloco de Sujo”, que foi gravado pelas “Gatas”? Haroldo Barbosa, nome conhecido sobre várias facetas, no jornal e no rádio, turfista, assinava a coluna “O Pangaré”, parceiro de Luiz Reis em várias composições, com Max Nunes em programas humorísticos. A última vez que nos vimos foi no Alto da Boa Vista, numa casa em que Chico Anysio alugou de Bibi Ferreira, num churrasco em que lembramos muitas passagens da vida. Haroldo, pai de Maria Carmem Barbosa, nome em evidência na televisão junto a Miguel Falabella, terá em breve um “song book”, e sua vida e obra, num projeto de sua filha. José Ewaldo Peixoto, grande voz que transmitia corridas de cavalo. Eram muitos, impossível nominar. Mas a música popular estava sempre presente, entre compositores e cantores. Com o violão de Ismael Silva, ouvimos as cantoras Luciene Franco, cantando “Seus olhos são duas contas pequeninas”, Helena de Lima, Lúcio Alves e muitos outros mais.

Bolonha gostava também de freqüentar ensaios de Escola de Samba e promover “shows”. Num desses eventos convidou “Pixinguinha”, que agora comemoramos seu centenário. Foi num espaço na Rua Bambina, em Botafogo, incrementado pelo bloco carnavalesco “Bafo a Onça”. Pixinguinha imperando com sua presença. Era alto, cheio de corpo e sorrisos, era o Rei tão esperado na festa.

Recordar é viver, diz o refrão.

Viver é recordar digo eu. Bolonha me chamava de Santa, apelido que perdurou por muito tempo. Conhecemos-nos no dia do meu casamento, num cartório da Rua Dom Manuel. Hábito da época, o casamento era feito em dois dias: civil e religioso, e os convidados iam ao religioso, mas Bolonha foi ao civil, sendo a única pessoa que não era da família. Intrigado, ele dizia não entender porque todos choravam... era a emoção, eu dizia...etc. Conheci meu marido quando tinha dois anos de idade. Uma vida, um destino...29 de dezembro, 42 anos desse primeiro encontro, lembramos a amizade pela sua família. D. Noêmia, D. Ludi, uma personalidade que é um capítulo à parte...

Heitor de Lima e Silva é nome de um clássico no Calendário Oficial do Jockey Club Brasileiro, tendo comparecido e prestigiado também o Jockey Club de Campos, apreciado as belezas do Farol de São Thomé e a hospitalidade da Fazenda Cotia na Boa Vista.

...Recordar é viver
Viver é recordar...

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