sexta-feira, 25 de abril de 2008

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS – A Crônica do nosso tempo*

por Bolonha (in memorian)

Quando começamos na crônica de turfe pelo “Diário Trabalhista”, por volta de 1947, havia uma tribuna de imprensa, e ela era ocupada inteiramente por jornalistas.

Na parte de cima havia um local com uns trinta escaninhos, cada um com o nome do jornal ou revista, escrito em uma chapa dourada. Todos tinham sua mesa com chave. E todos eram ocupados semanalmente pelos jornalistas. Na parte esquerda da tribuna, uma separação para cronistas e suas famílias, pois muitos levaram esposa e filhos. Dali assistiam aos páreos e voltavam para sua sala.

Vamos procurar recordar os velhos personagens, a maioria de paletó e gravata. Na primeira mesa o velho Manfredo Liberal, do “Jornal dos Sports”. Pequeno, sempre de colete, onde se destacava seu relógio de corrente de ouro. Era o encarregado dos discursos de agradecimento da crônica. Vez por outra, um proprietário mandava champanha para comemorar um triunfo. Quando se fazia o silêncio, entrava o Manfredo com o discurso. Também os presidentes Paula Machado, Salgado Filho, João Borges e Mário Ribeiro, e os beneméritos da classe Peixoto de Castro (com Dona Zélia) e Oswaldo Aranha iam assistir,vez por outra, uma carreir daquele local. Novos discursos do Manfredo.

Ao seu lado, o Juracy Araújo, de “A Notícia”, um “doublé” de compositor e cronista. Teve, como compositor, muitos sucessos (“Toma o Lenço e vai Enxugar as Lágrimas...”). Bem humorado, estava sempre brigando com o Daniel Fontoura, que, de charuto, sentava ao seu lado.

Mais adiante, o Salgado, de “O Jornal”, que, segundo conta o Odyr do Coutto, começou na crônica no dia da inauguração da Gávea. Um ficou no Derby e o outro veio para cá. Salgado, figura engraçada, alta e meio desajeitada no caminhar. Contador de anedotas. Boa gente.

Ao seu lado, o velho Bastos, do “Diário de Notícias”, sempre com um Bastinho a tira colo. Alto e gordo, era também uma figura muito simpática. Seu jornal era respeitado nos palpites.

Depois o Dr. Gerson Cordeiro, na época, o presidente da classe. Escrevia em “A Notícia” e também no “Correio da Noite”. Promotor, também agia por ali como tal. Só valia a sua vontade. Era ditatorial.

Do outro lado, em frente, o Átila Veloso, aposentado do Banco do Brasil, figura humana magnífica. Falava baixo e andava devagar por já ter tido problemas de coração. Era o apurador dos concursos de palpites da crônica.

Junto dele se sentava o Arnaldo Pinto, da revista “Jockey Club Illustrado”. Carregava a revista no colo e se queixava de ganhar muito pouco. Trabalhou aqui em nossa revista, e o atual concurso de palpites leva o seu nome.

Depois vinha o Henrique Marques Porto, do “Diário Trabalhista”, e foi ele quem nos levou para a crônica. Havia sido comentarista de ópera dos melhores e sabia mais de árias que de cavalos, mas tinha sempre bons colaboradores. Bem humorado e trabalhador, chegou a ser responsável, ao mesmo tempo, pelo “Diário Trabalhista”, “O Jornal” e “Diário da Noite”. Figura humana excepcional, aos 70 anos ainda foi pai de uma menina de olhos verdes (Combinha Marques Porto).

Sátiro Rocha era outra figura muito popular no local. Trabalhara em “O Imparcial” com o Odyr e foi um dos fundadores da “Revista Jockey Club Brasileiro”, uma beleza de revista, colorida, mas que só durou um ano. Era muito o prejuízo. Preto, baixinho e com um cachimbo permanente na boca. Gostava muito de um vinho tinto. Muito preparado.

Outro assíduo era o Nestor Costa Pereira, do “Diário Carioca”. Tomava umas “abrideiras” antes do almoço, e às vezes dormia três e quatro páreos, no meio daquela balbúrdia. Figura muito querida.

Paulo Xavier fazia o trabalho da “Folha Carioca” levando, segundo ele, o Wilson do Nascimento nas costas. Às vezes aparecia fardado, parece-nos que era inspetor da Guarda Noturno. Paulo trabalha na Secretaria do J.C.

Outro que também aparecia fardado vez por outra é o atual presidente da classe, Paschoal Leão Davidovitch. Ou era convocado, ou cabo do Exército. Nunca indagamos dele o porquê. Já era de “O Globo”.

Já íamos esquecendo do Dr. Alberto Garcia, advogado, vaidoso de seu português e que chamava a raia de grama de “Tapete Esmeraldino da Gávea”. Era secretário de “Vida Turfista”.

Na mesa do fundo o Heitor de Oliveira, o “Salomé”, o mais antigo cronometrista da Gávea. Tinha sido ponta esquerda do Andaraí com o apelido de Salomé. Ao seu lado, outro cronometrista, o Júlio Aquino. Heitor escrevia em “O Dia” e em “A Noite”, e Júlio Aquino na revista “Vida Turfista” e ocasionalmente em um outro jornal.

Luiz Reis começou logo depois, no “Diário Carioca” e em “A Bathalha”. O Arlindo Mannes e o Gil Muniz Vianna também logo depois, no “Correio da Manhã”. Mas nenhum deles chegou a freqüentar o local.

Como vocês estão vendo, quanto grande jornal acabou e como é diferente a classe de hoje.

Terminada a reunião, um ônibus fretado pelo J.C. levava os jornalistas até a cidade. Já sempre lotado. Hoje uma kombi seria exagero para levar os cronistas. Classe em extinção...

*Publicado originalmente na revista JCB, na década de 1980.

Nota do editor: Na foto, Bolonha, acima, e Haroldo Barbosa, outro mestre da crônica, riem de alguma história contada pelo treinador mais vencedor da Gávea, em todos os tempos: Ernani de Freitas.

Um comentário:

  1. Caro Bolonha,
    Conheci muitos dos nomes citados aí em cima na crônica de seu pai. Heitor de Oliveira, o Salomé Juracy Araújo, Sátiro Rocha , Arnaldo Pinto (se for um corcundinha engraçadíssimo), Sátiro Rocha, Luiz Reis...Todos grandes amigos de meu pai, Henrique Marques Porto. Tenho fotos onde aparecem reunidos. Posso enviá-las se interessar. Faço apenas uma observação, que está longe de ser uma "correção". Papai faleceu em 1969 ao 71 anos. Minha irmã mais nova, Cecília Maria, nasceu quando ele tinha 63 anos. Bem que ele gostaria de ter feito mais um filho ou filha aos setenta.
    Grande abraço
    Henrique Agostinho Marques Porto
    hmporto@hotmail.com

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